terça-feira, 29 de março de 2011

DIDIER PIRONI X GILLES VILLENEUVE

Vencedor das 24 horas de Le Mans, vice-campeão mundial de Fórmula 1, Didier Joseph-Louis Pironi encontra a morte aos 35 anos de idade há exatos 20 anos no volante do seu barco ‘Colibri’ durante uma etapa do mundial de off-shore powerboats.
Veloz, um personagem divertido fora do cockpit, mas um adversário sem receios de agir com brutalidade na pista, ambicioso ao extremo, este era Didier Pironi. Chegou na F1 com apoio da empresa petrolífera Elf, após vencer o prestigioso GP de F3 de Mônaco, estreando pela Tyrrell em 1978, ano em que consegue vitória muito comemorada junto com Jean-Pierre Jaussaud nas 24 horas de Le Mans com a equipe nacional da Renault. Mas na F1 as coisas não iam bem, a equipe de Ken Tyrrell estava mal das pernas e sem equipamento à altura. Em 1980 Guy Ligier o contratou e logo Didier vence seu primeiro GP em Zolder na Bélgica. Ainda conseguiu conquistar mais alguns pódios, foi o suficiente para chamar a atenção de Enzo Ferrari que pagou o passe à Ligier para substituir o Jody Scheckter, que ia se aposentar no final da temporada.
1981 foi uma temporada difícil, bem abaixo das expectativas de Ferrari com Gilles Villeneuve em sétimo lugar e Pironi no 13º do mundial. E também um aprendizado para o francês de como mexer os pauzinhos dentro da equipe, fazer política em prol da causa própria e ganhou no diretor Marco Piccinini um aliado. Criou também uma cumplicidade com Villeneuve, já que ambos viviam em Monte Carlo, viajavam juntos para as corridas, compartilhavam o tempo livre passeando de barco com as esposas e os filhos do Gilles.
Por isso, a atitude do “amigo” teve proporções tão sérias que ninguém poderia esperar quando Pironi ultrapassou o companheiro de equipe no final do GP de San Marino. Apesar de uma ordem da equipe de manter as posições tomou a vitória certa do canadense que se sentiu “apunhalado pelas costas” de alguém que considerava um amigo. E para Gilles uma amizade sincera era para a vida. Pironi, confiando nos bons contatos que criou dentro da Ferrari, desconversou achando que o sinal “slow” (devagar), que tinha avistado, dizia que estavam indo devagar demais. Como não tinham uma hierarquia definida na equipe, se sentiu no direito de ir mais rápido e procurar vencer.
Para Gilles foi uma traição que o fez perder a calma. Duas semanas depois, ele se recusava de sequer cumprimentar Pironi, nos treinos para o GP da Bélgica, Villeneuve sofre um acidente fatal. Não houve chance de uma reconciliação. Após o incidente de Imola, considerado um fator psicológico entre as causas do acidente fatal de Villeneuve, e a participação no acidente igualmente fatal de Ricardo Paletti em Montreal, causado pelo francês ao errar na largada deixando o motor morrer, observava-se um comportamento desagradável por parte de Pironi.
Seus modos prepotentes e exagerados até agravaram a crise pela qual seu casamento de poucos mêses com a esposa Catherine já estava passando. E pouco ele se importou, saiu desfilando com a apresentadora Veronique Jannot. Ele parecia estar a caminho de conquistar o grande sonho: se tornar o primeiro francês a vencer o mundial de pilotos da F1. Mas esta ambição era tão grande que tomava conta da personalidade de Didier Prioni, parecia corroer por dentro o até então amável brincalhão de boas maneiras.
Foi com esta atitude que Pironi encarou o treino livre de sábado de manhã em Hockenheim. Sem necessidade alguma de marcar tempo recorde passava em toda velocidade, cerca de 290 Km/h, pela Williams de Derek Daly e, sem visibilidade alguma na chuva torrencial, acertou a traseira da Renault de Alain Prost que estava a caminho dos boxes. A Ferrari foi arremessada a mais de dez metros de altura e bateu violentamente no asfalto, despedaçando a frente do monocoque e ricocheteando nos guard-rails com as pernas do piloto expostas.
Pironi sobreviveu com muita sorte a um acidente que tinha muita semelhança com o que matou Villeneuve. Mas o deixou com ferimentos sérios nas duas pernas e na bacia, por pouco, e graças à competência dos cirurgiões na Uni-Klinik Heidelberg, não teve a sua perna direita amputada. Ele nunca mais teve condições físicas de retornar ao esporte. Mesmo assim terminou a temporada na tabela como vice-campeão, o que indica o que poderia ter sido se Didier Pironi tivesse conseguido maneirar sua ambição descontrolada.
Impossibilitado de retornar ele começou a se interessar nas competições off-shore, já que importava Lanchas Abbate e motores náuticos de competição da Lamborghini. Sua empresa “Euronautique Leader” em Saint Tropez competia com três lanchas em 1986, o próprio Didier pilotando uma delas e logo na estréia quebrou quatro costelas com a violência que o casco quebrava as ondas naquela prova em Villanueva na costeira espanhola.
Em 1987 se inscreveu no campeonato Mundial de Off-Shore, seu navegador era Bernard Giroux, duas vezes vencedor do Ralí Paris-Dakar como co-piloto de Ari Vatanen. O “throttleman”, o terceiro homem que manuseia a alavanca do acelerador era Jean-Claude Guénard, um ex-engenheiro da Ligier O barco batizado de ‘Colibri’, construído inteiramente em fibra de carbono pelo estaleiro francês ACX era revolucionara e de longe a lancha mais leve do Mundial.
Em Arendal na Noruega a equipe conquistou a primeira vitória de maneira tão impressionante que se tornaram favoritos ao título. Até o Enzo Ferrari mandou um telegrama dando os parabéns. No dia 23 de agosto de 1987 Pironi e sua equipe estavam confiantes de também poder vencer a etapa de Isle of Wight. Brigando com o barco ‘Pinot di Pinot’ de Renato della Valle pela liderença, o ‘Colibri faz uma curva mais acirrada em volta de uma bóia e, acelerando mais cedo, acabou decolando por cima de uma onda que vinha do návio petroleiro ‘Avon’, cuja rota passava alguns quilômetros dali. Ao cair na água de ponta cabeça à velocidade considerável os três tripulantes são mortos pela força do impacto. O ‘Colibri’ não tinha um cockpit fechado para protegê-los nesta situação.
O túmulo do piloto que em duas carreiras distintas teve as suas maiores conquistas devastadas perto do auge por um destino cruel, se encontra na cidadezinha de Grimaud no sul da França, perto de Saint Tropez. A sua esposa, Catherine Goux, com a qual ele tinha casado pela segunda vez, estava grávida de gêmeos quando o acidente ocorreu. Ela deu luz a dois belos meninos em 6 de janeiro de 1988. Em um belo gesto ela fez uma homenagem reconciliatória: Os dois meninos foram batizados Didier e… Gilles. Ela também lançou um livro com o título “Lettre à Didier” (carta à Didier), o único livro que trata exclusivamente do piloto e, acima de tudo, do ser humano tão complexo, atormentado pela ambição, pela pressão, muitas vezes mal-interpretado e julgado pela opinião de terceiros que sequer o conheciam pessoalmente.



      BIG BEAR.      




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